Não sei quantas almas tenho

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010 |

Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem me achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,


Atento ao que sou e vejo,
Tomo-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.


Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que Julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque escreveu.
Fernando Pessoa

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